Falar sobre violência sexual é impactante e doloroso em todas etapas da vida. É algo que nos remete a um lugar de total falta de compreensão e impotência perante o adoecimento psíquico de estruturas perversas, e a consequência de seus comportamentos junto ao meio em que vivem.
Esses crimes costumam ser praticados por pessoas que são intimas dos abusados e que também são pessoas traumatizadas e abusadas. Um ciclo vicioso de dor.
São sérios os prejuízos decorrentes dos abusos na infância, causando repercussões psicológicas sérias e irreversíveis.
O abuso sexual, se caracteriza por ter toque ou não, ser verbal ou não verbal, velado ou aberto, e praticado por um membro da família ou mesmo por um estranho ou conhecido, que causou dano a criança.
O fato da violência ter ocorrido uma ou muitas vezes, é sem importância, uma vez que o dano se instala imediatamente.
Pessoas que foram violentadas e abusadas vão apresentar, ao longo da vida, adoecimentos psicológicos e psiquiátricos.
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Alcoolismo/Uso de drogas
Uma pessoa que viveu a experiência do abuso sexual na infância pode desenvolver personalidade adictiva como forma de lidar com seus sentimentos de angústia, culpa, vergonha, não aceitação, etc.
Depressão
A depressão é um dos sintomas mais comum para quem foi vítima de abuso sexual.
O sentimento de baixa auto-estima, de não se sentir merecedora de nada bom, faz com que a pessoa mergulhe em tendências depressivas durante anos.
Essa depressão pode levar a outros sentimentos que anulam toda uma vida.
É importante entender que, muitas vezes, pessoas vítimas de violência na infância costumam não lembrar dos fatos, ficando a memória inconsciente, o que leva a uma falta de compreensão do por que da depressão e de outros sentimentos auto sabotadores.
Promiscuidade
Pessoas que foram abusadas costumam buscar relacionamentos autodestrutivos e abusivos.
Oferecem no corpo como forma de receber um pouco de atenção, afeto, amor e carinho. De alguma forma foi aprendido assim.
Culpa
A sensação de culpa pelo que aconteceu pode afetar toda vida de uma criança abusada.
Normalmente a culpa começa pela impotência diante do abuso e do abusador e segue na vida adulta em todas as esferas da vida (profissionais, pessoais e sociais).
Isolamento
Isolar-se das pessoas e do mundo é uma forma de tentar manter-se seguro e preservar sentimentos e emoções. A confiança que foi roubada na infância precisa ser re-estabelecida.
Suicídio ou Automutilação
Existem algumas pessoas que viveram o abuso e pensam, quase que diariamente, em morrer. Talvez não seja o desejo de se suicidar, mas, antes disso, o desejo de morrer para que tudo acabe.
Ela pode passar anos de sua vida desejando morrer. Existem outras que levam esse desejo mais a fundo e, infelizmente, suicidam-se.
E ainda há aquelas pessoas que desejam a morte também, mas, antes de chegar à consumação de um suicídio, promovem a automutilação de seu corpo.
O suicídio é na verdade, o desejo profundo que todas as pessoas que foram abusadas sexualmente na infância têm de ver acabado o seu sofrimento. É uma tentativa desesperada para acabar com a dor e os traumas deixados pelo abuso.
É necessário compreender que, não importa como, onde ou porque aconteceu sua história de abuso, a criança ou adolescente nunca deve ser responsabilizado pela agressão.
O adulto sempre será o responsável em lidar com seus sentimentos e não usar de sua autoridade para sua satisfação sexual diante de uma criança.
Aprender a ver a história sobre esse ponto de vista trará mais auto-estima à pessoa que, aos poucos, vai deixando de lado o desejo de morrer.
Outras Conseqüências
Existem muitas outras conseqüências que o abuso pode deixar na vida de uma pessoa. Falta de confiança nas pessoas de uma forma geral, perfeccionismo, fobias, são alguns outros exemplos que podemos citar.
É muito importante que a família que passou por situações de abuso busque imediatamente tratamento psicológico para família e para criança, oferecendo assim suporte e proteção.
A tomada de atitude no sentido de buscar ajuda já vai fazer a criança ou adolescente se sentir protegido/a, entendido/a e amparado/a.
Por outro lado, a tentativa de manter o fato escondido, tentar manter em segredo a situação, levará a todos os comprometimentos apresentados acima e provavelmente a perpetuação nos comportamentos de violência pelo abusador que ira se sentir protegido pelo segredo e a vergonha da família.
É importante ressaltarmos que o abusador também necessita, e muito, de tratamento psicológico e psiquiátrico.
Referência
SIA – Sobreviventes de Incesto Anônimos. Disponível em: http://sia-br.org/
Psicologa, Diretora da Clínica Núcleo Integrado de Psicologia e Psiquiatria; sócia fundadora da Clínica Espaço Village; foi Oficial Tenente Psicóloga do Colégio Militar do Rio de Janeiro de 1998 a 2005; Especializada na Prevenção e Tratamento da Dependência Química; Atualmente, realiza palestras de prevenção e sensibilização em empresas e escolas.