A pandemia do Coronavírus está impactando nas nações em escala mundial em diversos aspectos, mas um tipo de ramo econômico que aparentemente não teria correlação com a pandemia seria o do mercado ilícito das drogas, mas que, na verdade, este segmento acaba sofrendo muitas consequências.
Estas são oriundas de alguns aspectos, como podemos destacar, as restrições de circulação; a perda do poder aquisitivo de milhões de pessoas e das próprias consequências no organismo de cada pessoa infectada.
A Pandemia do Coronavirus tem feito com que muitos países fechem suas fronteiras ao comércio e às circulação de pessoas com o objetivo de mitigar os impactos e a amplitude dos efeitos negativos causados pela contaminação do COVID-19 dentro das suas fronteiras, seja nos aspectos específicos à saúde da população ou, seja nos demais aspectos sociais, econômicos e/ou políticos.
Embora o objetivo final dessa restrição seja proteção do país nas questões legais, um mercado que sente muito dessa restrição de circulação (de pessoas, de materiais e de transporte) é o mercado das drogas ilícitas.
Entendemos como drogas ilícitas aquelas que a produção e comercialização não são permitidas pela legislação, ou seja, constituem-se como crime, como por exemplo: maconha, cocaína, crack, heroína, ecstasy, dentre outras.
No final do mês de Junho, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) publicou o Relatório Mundial sobre Drogas 2020 apresentando os aspectos referentes à produção, comércio e consumo das drogas ilícitas no mundo.
Segundo o Relatório Mundial, “o uso de drogas em todo o mundo vem aumentando, em termos dos números gerais e da proporção da população mundial que usa drogas.
Em 2009, os 210 milhões de usuários estimados representavam 4,8 % da população global entre 15 e 64 anos, em comparação com os 269 milhões de usuários estimados em 2018, ou 5,3% da população.
Nas últimas duas décadas, o uso de drogas aumentou muito mais rapidamente nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos”, apresentando-se em 7% nos países desenvolvidos e 28% nos países em desenvolvimento (e nestes com um crescimento mais rápido na população jovem).
Em todo o mundo, os maiores índices de consumo de drogas estão entre os países desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento. E dentro dos países, os setores mais abastados da sociedade tem uma maior preponderância no uso de drogas, porém, apesar do maior consumo, isso não se reflete no percentual de pessoas com mais transtornos.
O Relatório destaca que os setores mais ricos da sociedade tem uma maior prevalência de uso de drogas. Mas os transtornos relacionados ao uso de drogas são mais prevalentes entre pessoas com um nível socioeconômico mais baixo.
Dados de vários países sugerem uma associação entre padrões prejudiciais ao uso de drogas, distúrbios e baixa renda. Esses padrões parecem ser menos comum entre os setores mais ricos da sociedade”.
Apesar de “recente” na humanidade, o ápice do processo de contaminação está ocorrendo neste ano de 2020, a pandemia do Coronavírus já incide sobre o comércio e o consumo das drogas em escala mundial, com destaque para os grupos mais vulneráveis da sociedade.
COVID-19 e a produção e o comércio das drogas ilícitas
A crise sanitária provocada pelo coronavírus (COVID-19) está impactando diretamente nas economias, nas relações políticas, nas políticas sociais, e, principalmente, na saúde da população por todo o mundo.
O vírus já infectou mais 10 milhões de pessoas em todo o mundo, matou mais de 500 mil pessoas e levou os governos a tomar medidas drásticas para limitar a propagação do COVID-19.
Na tentativa de conter a disseminação do COVID-19, muitos países fecharam ou restringiram a circulação das suas fronteiras. Estudos indicam que este movimento provoca, para quase metade dos população mundial, viver sob restrições de mobilidade.
Há que se destacar que estas medidas de contenção do vírus também incidem diretamente na cadeia de suprimentos das drogas e nos mercados consumidores.
Muitos países tiveram uma escassez de numerosos tipos de medicamentos no nível do varejo, bem como aumentos de preços e reduções de pureza dos insumos, o que traz como consequência a troca de substâncias consumidas pelos usuários, por exemplo, de heroína para opioides sintéticos e/ou cada vez mais acessando drogas de tratamento.
Concomitantemente a esta ação, houve um declínio das atividades econômicas em virtude de muitos países optaram pelo fechamento de negócios não essenciais.
Desta forma, as restrições econômicas causadas pela pandemia, provavelmente, colocam os grupos populacionais mais vulneráveis a exposição de um risco maior, incluindo pessoas que consomem drogas.
Por exemplo, mudanças no mercado de trabalho, como o aumento do desemprego, pode ser um fator de risco às drogas.
Outro fator ligado ao desemprego é a possibilidade de uma das consequências da pandemia do COVID-19 é desencadear uma maior expansão dos mercados de drogas, podendo aumentar ou adotar o cultivo ilícito de culturas, ou porque as autoridades estatais podem ser menos capazes de exercer controle ou porque mais pessoas podem ter que recorrer a atividades ilícitas devido à crise econômica.
“A longo prazo, a desaceleração econômica causada pela a crise COVID-19 tem o potencial de levar a uma transformação duradoura dos mercados de drogas.
As dificuldades econômicas causadas pela crise do COVID-19 podem afetar pessoas que já estão em posição de desvantagem socioeconômica mais do que outros.
Este poderia levar a um aumento no número de pessoas recorrer a atividades ilícitas ligadas às drogas para ganhar a vida (produção, transporte etc.) e /ou ser recrutado em organizações de tráfico de drogas.
Com base nas experiências da economia crise de 2008, é justo supor que os fatores econômicos desaceleração pode levar a reduções de orçamentos entre os Estados-Membros, um aumento global no uso de drogas, com uma mudança para medicamentos mais baratos, e uma mudança nos padrões de uso no sentido de injetar drogas e substâncias com risco aumentado de dano”.
As pessoas mais pobres enfrentam um risco maior de distúrbios pelo uso de drogas. Aspectos como diminuição do acesso à riqueza produzida pelo país, acesso precário à educação, ao mercado de trabalho, à saúde, dentre outros aspectos sociais e isso pode aumentar o risco do uso de droga e do agravo de suas consequências.
Este risco é confirmado por estudos em países desenvolvidos, onde a trajetória socioeconômica adversa de um indivíduo – não apenas seu status em um único momento – também está associado ao risco de transtornos por uso de drogas.
Os transtornos relacionados ao uso de drogas também podem estar associados à estigmatização de determinados segmentos populacionais e com consequências dentro do sistema de justiça.
“Mulheres, minorias étnicas, imigrantes, grupos sexualmente diversos, pessoas deslocadas devidos conflitos armados ou desastres e aqueles em áreas rurais também podem ser afetadas desproporcionalmente [em decorrência de] distúrbios no uso de drogas ou enfrentam problemas na obtenção de tratamento serviços de saúde”.
Outro fator a ser destacado é que o uso prolongado das drogas pode afetar alguns órgãos e/ou tecidos do corpo humano de forma silenciosa e a pessoa não ter ciência porque o organismo ainda não apresentou nenhuma doença específica relacionada a este consumo/abuso de drogas.
Em decorrência disto, pessoas com uso regular com transtornos relacionados ao uso de drogas são particularmente suscetíveis a complicações e mortalidade se forem infectados com COVID-19.
Assim, apesar de haver muitas coisas a serem estudadas a respeito do COVID-19, algo que se apresenta como um fator de consonância entre pesquisadores e profissionais da saúde é que pessoas com comorbidades são mais propensas aos efeitos letais da contaminação do vírus e neste grupo, podemos colocar as pessoas que possuem algum tipo de comorbidade em função do uso/abuso das drogas.
Por: Janaína Rodrigues
Assistente Social e Mestre em Serviço Social/UFRJ.
Formada em Serviço Social pela UFRJ, com Especialização em Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais/UNB e Mestre em Serviço Social/UFRJ.
Assistente Social do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro e atuou como Coordenadora do Curso de Serviço Social da UNIABEU (2010-2017).