Assistente Social indica… livros é o espaço para o/a profissional destacar livros/ebooks na sua área de atuação e/ou de discussão e que considera necessários para um aprofundamento teórico e ético político profissional.
Nesta semana, o profissional convidado é Rodrigo Lima, Assistente Social, Mestre e Doutor em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É Professor Adjunto da Escola de Serviço Social da UFF e Coordenador do NUDISS – Núcleo de Extensão e Pesquisa em Direitos Humanos, Infância, Juventude e Serviço Social.
Nessa semana, os livros indicados são: “Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro: a proposta de povo em Renato Kehl” e “Expropriação e Direitos no Capitalismo”.
Quero parabenizar Janaína Rodrigues pela criação do site sesonoticias.com.br e louvar a iniciativa, num contexto tão complexo e adverso para a produção do conhecimento, de promover a leitura e a indicação de referências bibliográficas importantes para a reflexão e o exercício profissional de assistentes sociais.
Tem um clássico de Marilda Iamamoto, “Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos”, lançado pela Cortez no início da década de 1990, que sempre indico para estudantes e profissionais, por tratar de aspectos fundamentais para repensar a profissão, mas dessa vez minha sugestão são de dois livros recentes, lançados no ano de 2018.
O primeiro livro, de autoria de Weber Lopes Góes, intitulado: “Racismo e Eugenia no Pensamento Conservador Brasileiro: a proposta de povo em Renato Kehl”, da Editora LiberArs, é fruto da pesquisa de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (UNESP/Marília).
Weber, além de graduação em história e da militância no movimento negro, foi professor de Cursos de Graduação em Serviço Social e atualmente cursa Doutorado em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC, com pesquisa sobre segregação, extermínio e eugenia.
Essa publicação, leitura obrigatória para assistentes sociais, é de fundamental importância para desvelar as raízes do movimento eugenista enquanto uma das expressões nefastas do pensamento conservador no Brasil.
O livro está dividido em cinco partes.
Há uma robusta introdução e mais quatro capítulos muito bem encadeados onde o intelectual, com simplicidade na escrita, rigor acadêmico e profundidade investigativa, nos provoca com reflexões críticas sobre o projeto de branqueamento da sociedade, a influência da eugenia na produção e formação acadêmica e os ideais de desenvolvimento das “boas gerações” no país.
Weber Góes estimula a reflexão crítica e a indignação de qualquer profissional que defenda uma sociedade antirracista e anticapitalista.
Inicia seu livro explicando didaticamente o conceito de raça e os seus diferentes significados.
Delineia como a ciência contribuiu para difundir a superioridade de uma raça e as ideologias racistas presentes na Antropologia Criminal e na Medicina Legal.
Em seguida sinaliza aspectos cruciais acerca das particularidades da formação social brasileira e as debilidades de uma estrutura social forjada a partir da escravidão.
Depois explicita o papel central do médico sanitarista Renato Kehl como principal interlocutor do movimento eugenista no Brasil e sua relação com intelectualidade, onde crítica à Oliveira Vianna e Monteiro Lobato são salientadas.
Em quarto lugar, demonstra o impacto da ideologia eugênica, adotada como “religião”, no “aperfeiçoamento da moral humana” e no tratamento dispensado à população pobre, em situação de rua e, em especial, às mulheres.
Comprova que tanto o projeto emergente de educação e sanitarismo no país, como as instituições vinculadas ao Poder Judiciário e ao atendimento em saúde mental contribuíram para criminalização dos descendentes de africanos escravizados.
Por fim, o último capítulo identifica divergências de Renato Kehl, em relação às teses de “povo degenerado” e dedica parte de sua reflexão para entender a relação entre miscigenação, raça e branqueamento, ou seja, os elementos constitutivos do projeto de extinção dos negros brasileiros por meio da mistura e do incentivo à imigração seletiva de europeus, majoritariamente brancos de origem inglesa e escandinava.
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O segundo livro, organizado por Ivanete Boschetti, “Expropriação e Direitos no Capitalismo”, lançado pela Editora Cortez, conta com doze capítulos de intelectuais de diversas universidades públicas.
Essa publicação ocorreu, justamente, em seu processo de transição do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília para docente da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ivanete é assistente social e militante muito respeitada em nossa categoria profissional.
Além de inúmeras publicações sobre políticas sociais, foi Presidenta da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), na gestão 1999-2000 e Presidenta do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) na gestão 2008-2011.
Embora o livro obedeça a uma lógica organizada pela perspectiva da totalidade, a divisão aqui realizada tem uma finalidade meramente didática para divulgação.
Os quatro primeiros capítulos, de autoria de Virgínia Fontes, Marcio Lupatini, Guilherme Leite e Ivanete Boschetti, tratam de assuntos, cuja densidade teórica exige, das leitoras e leitores, alguma familiaridade com a tradição marxista: 1) A transformação dos meios de existência em capital – expropriações, mercado e propriedade; 2) Notas sobre a expropriação na “odisseia” do capital; 3) Valor, expropriação e direito: sobre a forma e a violência jurídica na acumulação do capital; 4) Expropriação de direitos e reprodução da força de trabalho.
Porém, cabe ressaltar, que essas problematizações explicitadas estão intimamente relacionadas aos tempos atuais, como: a relação entre expropriação e desemprego, as relações sociais mediadas pelo mercado, as interpretações inquietantes do Livro I de O Capital (Marx), a especificidade da economia mercantil-capitalista, a forma jurídica da equivalência, a violência jurídica, os direitos e o Estado social e as contradições entre a reprodução da força de trabalho e a reprodução ampliada do capital.
Outros quatro capítulos, de autoria de Ana Elizabete Mota, Elaine Behring, Carla Ferreira e Ana Paula Mauriel, reúnem reflexões sobre: 5) Expropriações contemporâneas; 6) Fundo público, exploração e expropriações no capitalismo em crise; 7) Sobretrabalho em Marx, expropriação e superexploração; 8) Estado e expropriações no capitalismo dependente.
Nesses capítulos as autoras explicitam hipóteses e reflexões acerca dos mecanismos utilizados no processo de enfrentamento da crise capitalista, o conceito de espoliação, a potenciação da superexploração, as diferenças entre o conceito de exploração e expropriação, a centralidade do fundo público nas análises atuais sobre Estado e políticas sociais, as formulações presentes no Livro I, II e III de O Capital, a articulação com as reflexões sobre superexploração elaboradas no âmbito da Teoria Marxista da Dependência (TMD), a dialética da mercadoria força de trabalho, os processos predatórios e violentos em países de economia dependente, a reestruturação produtiva como desmonte e sucateamento dos serviços públicos, a manutenção do Estado dependente na América Latina como estratégia de contrainsurgência e esfacelamento das organizações da classe trabalhadora.
Por fim, os quatro últimos capítulos, de autoria de Rodrigo Castelo, Vinícius Ribeiro e Ricardo de Lima (produção coletiva), Maria Augusta Tavares, Milena Barroso e Sara Granemann, expressam contribuições marxistas, permeadas por provocações e polêmicas em relação às violências, às tendências e questões das políticas sociais e às gestões governamentais.
Os conteúdos desses textos atingem diretamente o exercício profissional de assistentes sociais: 9) Violência como potência econômica: da acumulação primitiva ao novo imperialismo; 10) Empreendedorismo e expropriação da subjetividade; 11) Expropriação pela violência contra mulheres: expressão da violência estrutural no capitalismo contemporâneo; 12) Conciliação de classe: mediação ao aumento da exploração do trabalho?
Essa publicação é uma das principais novidades no conjunto de obras que adensam a produção do conhecimento em Serviço Social e, certamente, ganhará lugar de destaque, não apenas como referência dos currículos de Graduação e Pós-Graduação, mas em grupos de pesquisa e análises marxistas que buscam descortinar as formas de exploração, dominação e expropriação de direitos na organização social contemporânea, bem como as manifestações da coerção estatal e da violência, não como um descompasso momentâneo, mas como elemento estrutural e estruturante do modo de produção capitalista.
Link para o livro: Clique aqui
Espero que esses breves resumos agucem a curiosidade, pois esses livros são fundamentais para desvelar as facetas do racismo e da expropriação de direitos no modo de produção capitalista.
Consistem em vigorosas ferramentas de luta e, sendo assim, vamos à leitura?
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