Após a classificação do burnout como uma doença ocupacional pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2022, surgiu um termo relacionado, mas distinto em sua aplicação: o burnon.
O termo, criado por pesquisadores alemães, (Timo Schiele e Bert te Wildt), descreve um estado no qual os indivíduos enfrentam altos níveis de estresse, afetando suas rotinas e bem-estar, mesmo mantendo uma certa eficácia no trabalho.
Na percepção dos pesquisadores, o burnout, em algum momento existirá a percepção da fadiga e das consequências negativas do estresse, enquanto no burnon, geralmente há negação dos problemas e uma visão idealizada e romantizada do trabalho.
Para Luciana Lima, professora do Insper e especialista em liderança e gestão de pessoas, o burnon é um fenômeno complexo.
“As pessoas que sofrem com esse fenômeno estão funcionando no limite, trabalhando e seguindo suas vidas como se tudo estivesse normal, apesar de se sentirem frequentemente exaustas fisicamente e mentalmente”, explica.
Segundo a International Stress Management Association (ISMA), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros possuem sintomas de exaustão extrema, esgotamento e estresse ligados ao ambiente profissional.
Os dados ainda revelam que o Brasil é o 2º lugar no ranking mundial, atrás apenas do Japão, que soma 70% da população ativa no mercado sofrendo dos mesmos problemas.
“Identificar os sintomas do burnon é fundamental para prevenir o desenvolvimento do burnout. Sinais como exaustão crônica, redução do prazer em atividades fora do trabalho e persistência de sintomas físicos podem indicar a presença desse fenômeno”, ressalta Lima.
Os custos associados ao burnout são significativos tanto para as organizações quanto para o sistema de saúde.
De acordo com dados do Trench Rossi Watanabe, entre 2014 e 2022, as reclamações trabalhistas relacionadas ao burnout custaram às empresas brasileiras cerca de 2,48 bilhões de reais.
Além disso, estimativas do Fórum Econômico Mundial sugerem que as despesas associadas a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a 6 trilhões de dólares até 2030.
Os números alarmantes têm despertado a preocupação dos gestores em todo o mundo, destacando a urgência das empresas investirem em iniciativas voltadas para o cuidado com a saúde mental de seus colaboradores, que são parte fundamental para um bom desempenho financeiro das organizações.
“Embora o burnon possa não receber o mesmo reconhecimento do burnout, seus impactos podem ser igualmente prejudiciais tanto para os profissionais quanto para as empresas. É importante abordar esse estágio inicial de exaustão para evitar um colapso completo no futuro”, pontua Luciana.
A implementação de medidas preventivas pode ser realizada pelas empresas de diversas maneiras.
“Capacitar líderes para adotarem práticas de gestão anti-burnout, desenvolver os colaboradores para melhorar suas habilidades de autogestão e gestão do tempo, além de incentivar políticas e acordos que promovam um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. Evitar a cultura da urgência e da conexão 24 horas e estimular pilares como segurança psicológica, confiança e colaboração entre os times também são medidas eficazes”, enumera a professora.
Além disso, a adoção de normas como a ISO 45001, que abrange não apenas a saúde física, mas também a saúde mental dos colaboradores, pode ser uma ferramenta valiosa na prevenção desse fenômeno.
“Essa norma ajuda as empresas a identificar e gerir eficazmente os riscos relacionados à saúde e segurança ocupacional, enquanto promove uma cultura de segurança e bem-estar no ambiente de trabalho”, conclui a especialista em Liderança e Gestão de Pessoas do Insper.
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