Educação Financeira com Marina Farias: transformando vidas com organização e planejamento

Marina Farias, consultora financeira, compartilha sua experiência no setor e orienta sobre como a organização financeira pode mudar vidas, com foco na capacitação de mulheres.

Introdução

O SESO Notícias tem o prazer de entrevistar Marina Farias, uma das principais referências em consultoria financeira no Brasil.

Com anos de experiência no mercado, Marina já ajudou centenas de pessoas, especialmente mulheres, a alcançarem o equilíbrio financeiro, saírem do endividamento e descobrirem o poder transformador da educação financeira.

Marina iniciou sua trajetória profissional no setor bancário, onde trabalhou por mais de uma década em áreas como planejamento financeiro e análise de investimentos.

Observando a dificuldade que muitas pessoas enfrentavam para administrar suas finanças, ela decidiu se especializar em educação financeira e passou a atuar como consultora, com foco na capacitação de mulheres.

Sua abordagem humanizada e prática já foi destaque em cursos, palestras e workshops em diversas cidades do país.

Hoje, Marina Farias vem compartilhar conosco sua visão sobre a importância da organização financeira, abordando desafios comuns, dicas para começar e como construir um futuro mais seguro e próspero.

Vamos conhecer mais sobre sua jornada e aprender valiosas lições!

SESO NOTÍCIAS: Marina, na sua visão, qual a importância de falar para as mulheres sobre organização financeira?

MARINA: Muita gente me pergunta, Marina, por que você fala pra mulheres e não para todo mundo? Porque quando a gente fala de finanças e de dinheiro pra todo mundo, a mulher não acha que é com ela.

Tem uma experiência que aconteceu aqui, que abriram uma vaga para assessor de investimentos aqui, num escritório em Aracaju.

Abriram uma vaga pra assessor de investimentos. E aí se inscreveram oito homens e duas mulheres. Depois, na outra semana, abriram uma vaga para assessorar de investimentos.

E aí se inscreveram treze mulheres.

Porque ela precisa entender que a gente está falando com ela. Porque senão pensa que não é meu universo, então eu não me conecto.

Por isso, eu escolho falar exatamente com as mulheres, para ela entender que é com ela sim.

Que eu entendo a dor dela, que eu sei a correria que é girar vários pratinhos. Que eu sei o que é ser mãe, ser esposa, ser filha.

Eu sei o que é se preocupar com seus filhos e com seus pais.

E ainda assim, tem que organizar a grana de todo mundo.

SESO NOTÍCIAS: Realmente a mulher desempenha muitos papéis na sociedade. É esposa, mãe, filha. Para além do papel do cuidado.

E é sempre o cuidar. É o cuidar no trabalho, é o cuidar em casa. E é toda essa parte do cuidado financeiro também.

MARINA: E existe até um termo, chamado economia do cuidado. Quando a gente fala de economia do cuidado, ela é um… É um cuidado que não é remunerado.

Então, a mulher ela cuida dos filhos, cuida dos pais, cuida dos outros, e não é remunerado por isso.

Mas se houvesse um salário para a mulher que cuida da mãe, para a mulher que cuida dos filhos, pra mulher que cuida até do marido, às vezes, ela teria que receber três, quatro salários de cuidadora. Mas não recebe.

Então, é um cuidado não remunerado, mas que desgasta muito e impede muitas vezes que ela tenha um emprego que a remunere, né?

SESO NOTÍCIAS: Na sua visão, qual a relação da organização financeira e a emancipação feminina? Você acha que a organização financeira, pode contribuir para a emancipação feminina?

MARINA: Com certeza. Eu acho que a gente precisa, eu entendo a emancipação feminina como ela ganhar autonomia para poder fazer o que ela quiser, tomar as próprias decisões, fazer as próprias escolhas, né?

 E é engraçado trazer esse termo, é curioso talvez, engraçado não, mas talvez curioso, porque a gente emancipa, por exemplo, um jovem de 16 pra 18 pra que ele comece a tomar decisões.

Quando a gente fala de emancipar uma mulher de mais de 30 anos, a gente está falando de dar poder de decisão pra uma mulher que já deveria ter.

E é a falta do dinheiro que tira esse poder da mulher mesmo. Porque o que dá poder na mão da mulher é o dinheiro.

É o dinheiro. Então eu fico pensando, ontem eu fui dar uma palestra para umas meninas de periferia de uma comunidade, um projeto social, e eu estava falando isso, o que muda a realidade da gente é o dinheiro mesmo e não tem o que florear.

Porque eu fico em um trabalho que me humilha, em um relacionamento tóxico e abusivo, eu me submeto a qualquer tipo de humilhação só se eu não tiver dinheiro.

Porque se eu tenho dinheiro, eu saio desse relacionamento tóxico, eu não me submeto a qualquer tipo de trabalho e eu não deixo meus filhos passarem qualquer tipo de humilhação e nem aceito qualquer tipo de humilhação se eu tiver dinheiro.

É verdade. Quando eu entendo como fazer dinheiro, gerenciar o dinheiro que eu tenho e invisto esse dinheiro, aí realmente eu conquisto a minha emancipação, a minha autonomia, o meu poder e muda a minha realidade da minha família.

SESO NOTÍCIAS: A autonomia muda um pouco até a questão da autoestima. Você citou que o jovem com 16 anos pode ser emancipado, enquanto a mulher tem emancipação a partir do dinheiro porque o jovem, somente se for o homem, já é o papel dele na sociedade.

A mulher tem que brigar o tempo todo pelo seu papel.

SESO NOTÍCIAS: Pensando no Serviço Social que é uma profissão, predominantemente, feminina. E a pergunta tem esse direcionamento, as assistentes sociais empregadas têm o seu salário, mas não basta.

Para além do salário, essa profissional tem que conseguir se organizar financeiramente e saber que o dinheiro pode trabalhar para ela também, que a sua renda, a sua organização, sua autonomia também pela organização financeira e não só em receber o dinheiro.

Empiricamente, percebe-se que muitas assistentes sociais são a primeira pessoa da família a ingressar em uma faculdade, pertencentes às camadas mais empobrecidas da população e que isso pode refletir na parte financeira e na autoestima delas.

MARINA: Eu vou criar uma teoria com base nas poucas pessoas de Serviço Social que eu atendi, que pode não ser uma teoria geral, mas que me faz criar uma hipótese.

A maioria das mulheres, ao meu ver, de Serviço Social, já são pessoas de baixa renda, que escolhem essa profissão.

São mulheres que já vêm de uma família, que entendem que a mulher nasceu para servir, entram numa faculdade e estudam sobre servir o tempo inteiro, e aí você começa a ganhar dinheiro e entende que aquele dinheiro também é para servir.

E sempre é servir aos outros, não é servir a você.

Eu acho que uma ficha que precisa virar na cabeça das assistentes sociais, na verdade, é que para servir ao outro, você precisa estar servida.

SESO NOTÍCIAS: Como seria isso?

MARINA: Você não consegue encher a barriga de outra pessoa com fome, porque você não tem nem força para encher o prato.

E aí a gente não vai ajudar as pessoas hoje com a estratégia que eu coloquei para mim, porque eu também venho desse lugar, da mulher que cresceu para servir, que nasceu para servir, da mulher preta periférica, como a primeira negra da pessoa preta nordestina, periférica, que tem dinheiro da minha família, eu acendo com a obrigação de devolver e acender todo mundo e ajudar financeiramente todo mundo, eu cresço com esse peso, eu cresço financeiramente com esse peso.

Então, eu entendi que em algum momento não ia crescer financeiramente nem eu, nem minha família, nem ninguém. Então, o que foi que eu fiz?

Eu estipulei no meu planejamento financeiro uma cota de ajuda financeira para outras pessoas, e eu ajudasse o outro sem me prejudicar.

Então, até hoje, eu faço doações todos os meses, porque eu acho que a gente está aqui nesse mundo, nessa existência, para ajudar uns aos outros.

Mas eu só ajudo dentro daquele limite, que é um limite que não me prejudica, porque para ajudar o outro, a minha barriga tem que estar cheia, a minha cabeça tem que estar em paz, e eu preciso estar organizada.

Mas eu só consigo fazer isso porque eu tenho planejamento financeiro.

Então, eu planejo os meus gastos, defino quanto eu vou doar, e só dou dentro do planejado.

Isso me trouxe paz, trouxe limite para a minha família. Sim, porque senão vão achar que você sempre tem que ajudar.

E eu consigo dizer, esse mês eu não consigo ajudar mais, mês que vem eu ajudo, porque mês que vem eu tenho outra conta aberta.

Então, foi uma forma saudável também, de fazer com que eles também evoluíssem. Porque quando eu ajudava sem limite, eles se encostavam.

SESO NOTÍCIAS: Seria uma questão de colocar limites…

MARINA: Não vou dizer que eles se encostavam, mas eles não se desafiavam.

Se esforçavam um pouco menos. Se esforçavam menos.

E aí, quando eu dou o limite, eles falam, ah, acabou.

Eu vou ter que ir agora sozinha. Então, foi importante também.

Eu acredito que se as mulheres de Serviço Social entenderem e dar limite, que o serviço é importante, mas primeiro elas precisam se servir e dar limite às outras pessoas.

Isso também ajuda e contribui para a evolução das outras pessoas.

Isso vira uma grande chave. Se servir primeiro é importante financeiramente. E dar limite às outras pessoas também é importante.

SESO NOTÍCIAS: A partir deste pensamento, quais os primeiros passos que você recomenda para quem está endividado ou não sabe organizar sua vida financeira? Por onde essa Assistente Social pode começar?

MARINA: Primeiro, anotar tudo que entrou no mês e tudo que saiu no mês. Se puder usar uma planilha, ótimo. Se não puder, faz no caderninho.

Marina, eu tenho dificuldade de encarar. Entendo. É difícil.

É difícil mesmo. Mas, para você resolver um problema, você precisa encarar um problema.

Anotar os gastos, eu entendo como é uma dor que você precisa passar para resolver. Se você não passar por aquela dor, não vai resolver nunca. Vou dar um exemplo.

Se você tiver com a dor no punho e você fingir que aquilo não está doendo, e você continuar empurrando aquilo com a barriga, pode chegar um momento que você perca o movimento da mão.

E aí é um nível de endividamento muito grave. Só que se você está com a dor no punho e você procura logo fazer uma fisioterapia, você resolve aquilo.

Mas a fisioterapia vai doer. Vai, sim.

Então, fazer a planilha e gerenciar os gastos é a fisioterapia que dói, mas resolve.

Então, a primeira coisa é parar e anotar tudo que entrou e tudo que saiu. Marina, fiz, estou aqui chorando.

Arrasada. Sim. Ok.

Depois que tiver tudo anotado, você vai olhar e pensar duas coisas. Como eu posso economizar aqui e como eu posso ganhar mais dinheiro? Depois dessas duas perguntas, você cria um plano.

Se precisar de ajuda, é só me seguir no Instagram, @ricasprasempre, que eu dou suporte. Eu tenho uma mentoria para dar suporte. Tem muito conteúdo gratuito lá.

Então, eu ajudo exatamente essas mulheres que estão passando por esse momento.

SESO NOTÍCIAS: Você já deu mentoria para alguma assistente social?

MARINA: Sim, ela é do Rio de Janeiro. Inclusive, é a assistente social mais antiga que eu dou mentoria.

Mas a maioria das mulheres que chegam pra mim, elas estão realmente assim, num nível bem desorganizado. Mas saem depois de seis meses ali, organizadas e investindo. Graças a Deus.

SESO NOTÍCIAS: Existe uma crença de que é necessário ter um salário alto para poder investir. Como desmistificar isso? O Assistente Social não tem piso salarial, grande parte das profissionais recebem em média três, quatro salários mínimos.  Como é possível investir?

MARINA: Ok. Todo mundo já ouviu uma história de alguém que ganhava muito bem e está endividado. E também já ouviu uma história de alguém que ganhava pouco e conseguiu conquistar a casa própria e fazer uma viagem legal com a família.

E isso só comprova que não é sobre quanto você ganha. É sobre o que você faz com o que você ganha. Eu vou fazer uma conta simples aqui.

Cem reais por mês parece muito dinheiro. Mas, para investir. Mas, será que se você olhar a fatura do seu cartão de crédito hoje, teria cem reais que você poderia não ter comprado?

Não ter comprado um iFood? Poderia. Tem alguma coisa ali que eu poderia ter aberto um monte de cem reais para juntar?

E aí eu vou fazer essa conta. Imagina cem reais durante trinta anos.

Marina, por que trinta anos?

Trinta anos é o tempo do financiamento da caixa. É verdade. Todo mundo acha que é um tempo…

Vou fazer o financiamento da caixa. R$ 100,00 durante trinta anos dá R$ 352 mil reais.

E aí, você pensa assim.

Ah, Marina, mas esse dinheiro lá na frente não vale tanto. Vai valer menos. Sim.

Por conta da inflação. Mas é dinheiro para você pode comprar uma casinha vista.

SESO NOTÍCIAS: Sim. Ao invés de ficar dando juros para o banco.

MARINA: Quantas pessoas você conhece que compram uma casinha vista? Poucas. Mas eu estou falando de você conseguir fazer isso com R$ 100,00 por mês.

E muitas vezes você pensa ah, cem reais é melhor não juntar nada. Não. Cem reais você compraria uma casinha vista.

Simples, humilde. Mas é seu e à vista. E não ficou endividado com o banco.

E eu vou fazer uma provocação maior. Se você fizer R$ 150,00 aumenta muito o valor que você vai ter.

Se você conseguir fazer com R$ 150,00, vai para R$ 500 mil reais.

SESO NOTÍCIAS: Mas se for pensar em R$ 150,00, talvez seja muito esforço para algumas pessoas.

MARINA: Mas vale a pena.

 Então, mas eu acho que é essa visão de investimento que as profissionais não têm exatamente.

Do acesso aos investimentos.

E aí, se me perguntam: Marina, e por onde eu começo a investir?

Investindo em qualquer banco digital.

Qualquer investimento acima de 100% do CDI já é um excelente começo.

O importante é ter a consistência de todo mês botar R$ 50,00; R$100,00; R$150, 00; R$ 200,00.

Fez uma hora extra, coloque. Esse dinheiro não ia entrar.

Pega esse dinheiro a mais e bota lá. Fiz um brigadeiro para vender, levantei mais R$ 100,00, vai lá e bota.

E se fizer isso, esquece o dinheiro no longo prazo. Ah, e se eu morrer? Ia morrer de qualquer jeito.

Esses R$ 100,00 hoje ia fazer sua vida mais rica, mais feliz em um mês?

Não ia.

Ah, eu estou vivo. Se eu deixar de gastar R$ 100,00, mudou sua vida?

Mas se você viver, esses R$ 100,00 vai mudar a sua vida.

SESO NOTÍCIAS: É uma mudança de mentalidade?

MARINA: Exatamente. E é isso que eu quero levar para as mulheres. Porque, quando a gente olha para estatística, quem 96% das compras para casa, quem faz somos nós, mulheres.

O dinheiro está na nossa mão.

Quem define se vai sobrar R$ 100,00, R$ 150,00 ou R$ 200,00 no mês, são as mulheres. Os homens estão só vivendo.

SESO NOTÍCIAS: Sim, mas a mulher não percebe que tem esse poder.

Talvez seja por essa crença limitante e pela forma com que a mulher é educada não percebe que existe a possibilidade de juntar dinheiro para poder ter esse dinheiro a longo prazo trabalhando para você, contribuindo para um sonho, para um futuro que possa ter.

MARINA: Exatamente.

SESO NOTÍCIAS: Você tem algum exemplo prático de alguma pessoa que, mesmo com uma renda modesta, conseguiu se organizar e ela conseguiu atingir um ponto que ela gostaria ou conquistou algum sonho?

MARINA: Eu tenho uma cliente que vende calcinha de porta em porta. E ela estava endividada usando cartão de crédito.

Quando vende, é pouco. Ela tirava, assim, um pouco por mês.

E aí, ela começou a botar na ponta do lápis, começou a mudar a postura dela, cobrar as pessoas que compravam as calcinhas. Colocou meta de venda, começou a faturar R$ 1.500,00. Antes faturava R$ 1.000,00.

Desses R$1500,00, ela começou a juntar R$200,00. Em seis meses, ela tinha R$ 1.000,00 guardado. E ela me mandou uma mensagem. Disse que com quarenta anos de idade, nunca tinha tido mil reais guardado na vida.

SESO NOTÍCIAS: É uma mudança de mentalidade e de ação.

MARINA: Para muitas pessoas, R$ 1.000,00 é pouco dinheiro. Foi a primeira vez que ela teve R$ 1.000,00 guardados na vida dela.

Era cem por cento do salário dela há pouco tempo atrás.

Eu tenho outra cliente que ela vendia doce de porta em porta. E o sonho dela era ser fotógrafa.

Aí, ela começou a juntar dinheiro, conseguiu comprar a câmera. Hoje, ela é fotógrafa com o dinheiro que ela juntou.

SESO NOTÍCIAS: Isso é uma mudança de vida.

MARINA: De vida. Ela fez um post me marcando e contando isso.

Então, assim, é…

Eu desejo para todas as assistentes sociais que estão lendo essa matéria que elas acreditem nelas mesmas. Acreditem que é possível. Porque esse é o primeiro passo.

Se você ler tudo isso aqui, e pensar que não é para você, que não é possível, não será.

Se você ler e decidir que, a partir de hoje, vai fazer diferente, vai começar, seja com dez reais, com trinta ou com cinquenta, no futuro, a gente vai se encontrar novamente e você vai ter uma história bonita e inspiradora para contar para outras mulheres.

E essa é a história que eu quero que você conte.

SESO NOTÍCIAS: O Seso Notícias agradece por ter compartilhado um pouco do seu conhecimento com as Assistentes Sociais.

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